segunda-feira, 6 de julho de 2009

ESCOLA X BIRRA

A crise de birra infantil é uma demonstração clara de raiva, de irritação, de insatisfação com uma situação com a qual ela já não consegue mais lidar. Quase sempre se manifesta de maneira corporal, por meio de gestos, de gritos, de expressões faciais ou de choro. É a forma que a criança encontra para nos mandar uma mensagem, para nos dizer com o corpo aquilo que não consegue transmitir por meio de palavras, pois nem ela mesma sabe que sentimentos são aqueles que a estão perturbando.
A verbalização é muito difícil nessas ocasiões. Então, ela explode numa crise de raiva que, na maioria das vezes, nada tem a ver com seu desejo real. Essa explosão pode ter dois significados: ou se trata de uma expressão típica da criança mimada, que não tem seus limites claramente definidos e, portanto, que tem o controle da situação e sabe manipulá-la a seu favor, ou se trata de uma necessidade urgente de se fazer ouvir, de fazer notar suas necessidades, não por ser mimada, mas por alguma carência que desconhecemos. Em qualquer dos casos, uma vez instalada a crise, é preciso agir. Diante de uma crise de birra, quase sempre os pais perdem o controle da situação, e acabam agindo de forma igualmente infantil, entrando numa queda-de-braço ou, pior ainda, cedendo aos caprichos da criança.
Na hora em que a criança está tendo sua crise, a melhor atitude é não entrar no foco do problema, ou seja, não entrar numa discussão sobre seu comportamento inadequado, não questionar sua real necessidade daquilo que desencadeou a crise e menos ainda, tentar convencê-la por meio da argumentação. Em estado de crise a criança mal consegue ouvir o que lhe dizemos e muito menos, compreender. A melhor atitude é tentar resolver o problema rapidamente, de maneira eficaz e sem grandes discursos. Procurar tratá-la com calma e firmeza, é o mais sábio a se fazer no momento.
Movidos pela culpa de não sermos capazes de consolar ou suprir a necessidade que a criança tem chorando, cedemos às exigências mais absurdas, concordamos com idéias que contrariam nossos princípios, e nos perdemos num mar de contradições, pois nosso discurso está sempre caminhando no sentido contrário ao de nossas ações. Pregamos uma coisa e fazemos outra. A criança que faz birra, de uma certa maneira, está testando esse controle, está checando quem pode com ela. E quando os pais ou a professora cedem, já entregaram o controle a ela.
Todos concordamos que os pais devem ser amigos de seus filhos, mas o excesso de flexibilidade leva a uma carência de limites por parte da criança, que quer e precisa de limites para crescer de maneira sadia. Por outro lado, o excesso de disciplina, também é prejudicial, porque a criança sente necessidade de provar a si mesmo que é amada, importante. A “manha” ajuda a criança a despertar nos adultos, pena, misericórdia... O limite com equilíbrio é o corrimão na vida da criança, é onde se apóia nas horas mais difíceis e inseguras. Sem corrimão ela escorrega no primeiro degrau e vai rolando pela vida afora.
Além disso, os pais são os primeiros referenciais do mundo adulto para a criança. Por isto, é extremamente importante para o desenvolvimento da criança que este modelo esteja fortemente impregnado de imagens de firmeza, de segurança, de determinação, de coerência, de ternura e de autoridade - não confundindo nunca autoridade com autoritarismo.
No momento em que os pais demonstram falta de autoridade, ou de segurança, estão trocando de papéis com a criança, permitindo que ela assuma o controle da situação. Mas a criança não está preparada para ter controle de nada, ela espera que este tipo de postura venha do adulto, seu modelo e parâmetro de conduta. É essencial que haja uma definição clara de papéis, que a criança se submeta a uma autoridade que lhe dê regras, mostre caminhos, defina limites e cobre resultados. Liberdade, sucesso, fracasso, frustração, responsabilidade e limites são condições essenciais para o crescimento saudável. .
A crise de birra é uma manifestação típica da criança que não aceita a realidade, que não aceita o “não”, que não sabe lidar com a frustração. Primeiro ela testa a possibilidade, dizendo “eu quero”. Ao ouvir o não, ela não suporta a realidade de não ser o centro das atenções e entra em crise. Na crise, todos sentem pena dela e a satisfazem...
Mas crianças que têm crises de birra também estão nos enviando uma mensagem muito clara. Elas estão nitidamente dizendo: olhe para mim, me pegue no colo, me abrace, fique comigo. Eu quero colo! E por que não damos colo? Por que não contamos histórias? Por que não temos uma cadeira de balanço no quarto onde ela possa dormir embalada ouvindo uma canção? Por que não rolamos no tapete ? Por que não fazemos guerra de almofadas? Porque nos disseram que isto poderia deixá-la muito mimada.
Mimos são brinquedos. Brincadeiras são afeto. Coisas totalmente distintas. Brincadeira é atenção, é carinho, é amor, é contato físico, é toque, exige parceria e cumplicidade, é puro prazer. E não custa nada. Faz um bem danado para a criança e é um santo remédio para os pais, que podem aliviar a tensão com a alegria e o contato físico com a criança. Crianças emocionalmente bem supridas raramente têm crises de birra. E pais emocionalmente presentes raramente têm crises de culpa.
Como agir?

- Expliquem claramente à criança a necessidade e o prazer da escola,

- Levem a criança todos os dias à escola para que perceba que a birra não muda o que os pais e a professora esperam dela,

- Não disciplinem fisicamente o aluno quando ele se recusar ir à escola. Seja firme, mesmo chorando no trajeto, faça questão de agir como todos os demais pais, deixando o aluno aos cuidados da professora, dia após dia... No prazo de no máximo duas semanas, a criança se cansará da birra!


- Sejam carinhosos em casa... Abraços, beijos, expressões de ternura, nunca são demais... Elogiem o desempenho escolar, premiem lições caprichadas, incentivem!

- E o mais importante: não cedam! Um dia chora, fica em casa; outro dia vai à escola, chora de novo... É importante que a criança perceba que sua birra não conquista seus desejos!

Cybele R.
Pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional
pelo Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo, licenciada em Letras pela USP.

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