Um objetivo muito importante dentro do âmbito da educação familiar é o cultivo da amizade. Trata-se de levar os filhos a saber o que vem a ser a amizade e a distinguir os amigos autênticos dos falsos. Mas, além de idéias claras e de critérios corretos sobre este tema, os filhos devem ser também capazes de fazer amizade e de ser bons amigos.
O cultivo da amizade está intimamente relacionado com dois objetivos ainda mais amplos: aprender a querer bem às outras pessoas e aprender a conviver. São duas capacidades que se desenvolvem de modo natural na família, na medida em que esta última é lugar de amor e escola das virtudes da convivência.
A influência do ambiente familiar costuma ser decisiva para o desenvolvimento, primeiro do comportamento social e depois dos hábitos de amizade. É verdade que o ambiente extrafamiliar - os colegas de estudo, da rua, etc. - pesa cada vez mais, mas os pais e os irmãos continuam a ser os principais agentes de socialização da criança, principalmente nos primeiros anos de idade.
Deve-se frisar, por isso, o impacto que as primeiras experiências sociais vividas no lar têm para os filhos. Se essas experiências forem gratas, eles tenderão a repeti-las, desenvolvendo assim atitudes de abertura para com os outros e hábitos de convivência. Se, pelo contrário, forem desagradáveis, procurarão evitá-las.
As experiências sociais positivas ajudam fortemente os filhos a ser ativos, extrovertidos, independentes e curiosos; as experiências sociais negativas levam-nos a ser passivos, dependentes, introvertidos e reservados. As crianças do primeiro caso estarão em condições de influenciar os outros - terão liderança - e de ser criativas; as crianças do segundo serão, provavelmente, mais influenciáveis e conformistas.
De que depende que as experiências sociais vividas no lar fomentem ou não a atitude dos filhos para a convivência?
Um dos fatores é o caráter global do lar. Quando o ambiente da casa se caracteriza pela tensão e pelo atrito habituais, é muito provável que isso gere atitudes sociais negativas nos filhos. Pelo contrário, quando se respira um clima de compreensão entre os membros da família, os filhos desenvolverão atitudes positivas.
Outro fator é o das condutas que os filhos observam em casa. Os pais e os irmãos mais velhos são modelos de conduta que os filhos pequenos observam e imitam continuamente. É bom, por exemplo, que possam observar comportamentos que denotam preocupação pelos outros, compreensão, ajuda, flexibilidade... Os filhos percebem igualmente se o pai e a mãe se relacionam entre si com a benevolência e o altruísmo próprios do amor e da amizade, se têm ou não amigos, se sabem encontrar tempo para a amizade, se são generosos, sinceros, respeitosos e leais com seus amigos.
Um terceiro fator é o valor que os pais dão ao fato de os filhos serem sociáveis e terem amigos. Muitos pais encaram o tema da amizade como algo secundário. Ignoram assim que, como disse Aristóteles, os amigos são o que há de mais importante na vida. Ignoram que as relações de amizade ajudam as pessoas a conhecer-se, corrigir-se e superar-se em todos os aspectos.
Se os pais, por exemplo, não permitem que os seus filhos tragam para casa companheiros de diversão e amigos, estarão aplicando uma nota negativa à conduta social dos filhos. Para que as crianças pequenas se desenvolvam como pessoas sociáveis, é preciso animá-las a sê-lo e premiar os esforços que façam. Mas isso apenas não basta, apesar de já ser algo bom: é preciso ensiná-las também a comportar-se de um modo socialmente aceitável. Uma forma de estimular os filhos à abertura para os outros é convencê-los com fatos de que vale a pena. É bom que vejam, por exemplo, que os seus irmãos e companheiros de estudo se comportam melhor com eles quando são tratados com generosidade e pior quando são tratados de maneira agressiva.
Um quarto fator para ajudar os filhos a desenvolver atitudes de convivência e amizade é a participação na vida da família. Existem lares participativos e lares não-participativos. Nos primeiros, há muita comunicação pessoal entre pais e filhos e entre irmãos. Os pais explicam o motivo por que existem certas regras na família, os filhos são consultados antes que se adotem algumas decisões que os afetam diretamente, pais e filhos colaboram nas tarefas domésticas... Nesses lares, existe um clima de confiança e diálogo espontâneo e sincero, como é próprio da vida de família. As decisões dos pais não são caprichosas ou arbitrárias.
No lar participativo, os filhos são premiados pelo espírito de iniciativa, expressão espontânea, participação nas conversas e na tomada de decisões familiares. Como conseqüência, são criativos, originais, desenvoltos e abertos. No lar não-participativo ou excessivamente controlado, os métodos de educação são autoritários. Existem restrições taxativas da conduta sem nenhuma explicação e sem referência a critérios objetivos e estáveis. Os filhos não têm oportunidade de exprimir a sua opinião ou o seu ponto de vista. É próprio do lar não-participativo castigar os filhos que manifestam curiosidade e espontaneidade ou que tentam fazer valer as suas opiniões. E, por outro lado, premia-se a conduta submissa, dependente e impessoal.
Os pais que estão seriamente preocupados em desenvolver nos filhos hábitos de convivência e atitudes de amizade devem perguntar-se até que ponto o ambiente familiar caminha nessa direção. Proponho seis pontos para este auto-exame:
1. Há distância ou há relações amistosas entre os membros da família?
2. Controle autoritário ou clima de participação?
3. Individualismo ou cooperação no trabalho e no lazer ?
4. Somente punição ou também gratificação das condutas sociais dos filhos?
5. Casa fechada ou casa aberta aos amigos dos filhos?
6. Pais sem amigos ou pais com amigos?
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