domingo, 28 de março de 2010

AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL E AS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS




Formado no campo da psicologia e da neurologia, o cientista norte americano Howard Gardner causou forte impacto na área educacional com sua teoria das inteligências múltiplas, divulgada no início da década de 1980. Seu interesse pelos processos de aprendizado já estava presente nos primeiros estudos de pós-graduação, quando pesquisou as descobertas do suíço Jean Piaget (1896-1980). Por outro lado, a dedicação à música e às artes, que começou na infância, o levou a supor que as noções consagradas a respeito das aptidões intelectuais humanas eram parciais e insuficientes.

Até ali, o padrão mais aceito para a avaliação de inteligência eram os testes de QI, criados nos primeiros anos do século 20 pelo psicólogo francês Alfred Binet (1857-1911) a pedido do ministro da Educação de seu país. O QI (quociente de inteligência) media, basicamente, a capacidade de dominar o raciocínio que hoje se conhece como lógico-matemático, mas durante muito tempo foi tomado como padrão para aferir se as crianças correspondiam ao desempenho escolar esperado para a idade delas. "Como o aprendizado dos símbolos e raciocínios matemáticos envolve maior dificuldade do que o de palavras, Binet acreditou que seria um bom parâmetro para destacar alunos mais e menos inteligentes", diz Celso Antunes, coordenador-geral de ensino do Centro Universitário Sant’ Anna, em São Paulo. "Mais tarde, Piaget também destacou essa dificuldade e, dessa forma, cresceu exponencialmente a valorização da inteligência lógico matemática."

Muitas escolas, inclusive no Brasil, se esforçam para mudar seus procedimentos em função das descobertas de Howard Gardner. A maneira mais difundida de aplicar a teoria das inteligências múltiplas é tentar estimular todas as habilidades potenciais dos alunos quando se está ensinando um mesmo conteúdo. As melhores estratégias partem da resolução de problemas. Segundo Gardner, não é possível compensar totalmente a desvantagem genética com um ambiente estimulador da habilidade correspondente, mas condições adequadas de aprendizado sempre suscitam alguma resposta positiva do aluno – desde que elas despertem o prazer do aprendizado. O psicólogo norte americano atribui à escola duas funções essenciais: modelar papéis sociais e transmitir valores. "A missão da educação deve continuar a ser uma confrontação com a verdade, a beleza e a bondade, sem negar as facetas problemáticas dessas categorias ou as discordâncias entre diferentes culturas", escreveu. Pela própria natureza de suas descobertas, o trabalho de Gardner favorece uma visão integral de cada indivíduo e a valorização da multiplicidade e da diversidade na sala de aula.

A aplicação prática da teoria das inteligências múltiplas na Educação Infantil, acontece por meio da observação atenta dos professores, a criação de oportunidades para os alunos desenvolverem suas habilidades apresentando os conteúdos escolares de diferentes formas e o estímulo as habilidades de cada criança, fazendo da aprendizagem um prazer, uma alegria, uma brincadeira que flui naturalmente no cotidiano da turma.

O relatório do que acontece em sala de aula, pode ser bimestral e descritivo. Cada criança apresenta inicialmente de duas a três habilidades mais marcantes, que podem ser relatadas pelos professores aos pais. Para redigi-las, o professor vai escolher em quais características aquele aluno é melhor descrito. Segue tópicos que podem ajudar na descrição de maneira geral.



INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS – DESCREVENDO OS ALUNOS



ESPACIAL

Demonstra interesse por atividades artísticas e apresentações visuais. Realiza com destreza atividades de pintura, colagens, modelagens, é criativo e inventivo. Define cores, combina texturas, diferencia formas geométricas.

CINESTÉSICA-CORPORAL

Apresenta interesse por atividades que envolvam o uso do corpo, tem boa consciência física. É muito participativo em jogos, atividades com recursos manipuláveis e nas aulas de Lego. Tem desenvolvido excelente noção espacial, posicionamento e lateralidade.

LÓGICO-MATEMÁTICA

Demonstra interesse e boa participação nas atividades com desafios, problemas, enigmas, atividades cientificas de experimentação, desafios numéricos, pensamentos críticos. Analisa, compara e diferencia proporções, quantidades, grandezas e elementos lógicos. Identifica, reconhece e quantifica os numerais.

NATURALISTA

Tem especial interesse por atividades ao ar livre, experiências de classificação animais e vegetais, gosta de histórias sobre os bichos e as plantas. Observa, analisa e protege a natureza do espaço escolar.

SONORA

Demonstra aprendizagem rítmica, mantém a atenção e o interesse nos temas que são musicados e poéticos, rimados. Tem boa capacidade de memorização, criação e vinculação de conceitos a música.

LINGÜISTICA

Gosta de falar, expressar suas idéias e opiniões, faz explanações. É atento aos murais, jogos de palavras e atividades que exploram a narração, leitura ou redação. Tem desenvolvido habilidades operatórias como sintetizar, analisar, relatar, descrever e boa participação nos desafios sobre interpretação de textos, poemas e histórias para expressar diferentes conteúdos. Identifica as letras associando-as aos seus sons, o nome próprio e os nomes dos amigos.

INTRAPESSOAL

Demonstra alegria por atividades individuais, de expressão única e não partilhada. Manifesta a apreensão de conhecimentos, de maneira original e exclusiva, expondo-se somente se requerido. É organizado e sente-se á vontade quando as atividades são rotineiras ou pré estabelecidas. Gosta de ouvir histórias e manusear livros.

INTERPESSOAL

Tem excelente participação em jogos, atividades sociais e ações coletivas. É cooperativo, solidário amigável. Interage com todos no parque.





Bibliografia:

As Inteligências Múltiplas e seus Estímulos, Celso Antunes, 144 págs., Ed. Papirus, tel. (19) 3272-4500

Inteligência – Um Conceito Reformulado, Howard Gardner, 348 págs., Ed. Objetiva, tel. (21) 2199-7842


segunda-feira, 1 de março de 2010

Participação e amizade na família



Um objetivo muito importante dentro do âmbito da educação familiar é o cultivo da amizade. Trata-se de levar os filhos a saber o que vem a ser a amizade e a distinguir os amigos autênticos dos falsos. Mas, além de idéias claras e de critérios corretos sobre este tema, os filhos devem ser também capazes de fazer amizade e de ser bons amigos.



O cultivo da amizade está intimamente relacionado com dois objetivos ainda mais amplos: aprender a querer bem às outras pessoas e aprender a conviver. São duas capacidades que se desenvolvem de modo natural na família, na medida em que esta última é lugar de amor e escola das virtudes da convivência.



A influência do ambiente familiar costuma ser decisiva para o desenvolvimento, primeiro do comportamento social e depois dos hábitos de amizade. É verdade que o ambiente extrafamiliar - os colegas de estudo, da rua, etc. - pesa cada vez mais, mas os pais e os irmãos continuam a ser os principais agentes de socialização da criança, principalmente nos primeiros anos de idade.



Deve-se frisar, por isso, o impacto que as primeiras experiências sociais vividas no lar têm para os filhos. Se essas experiências forem gratas, eles tenderão a repeti-las, desenvolvendo assim atitudes de abertura para com os outros e hábitos de convivência. Se, pelo contrário, forem desagradáveis, procurarão evitá-las.



As experiências sociais positivas ajudam fortemente os filhos a ser ativos, extrovertidos, independentes e curiosos; as experiências sociais negativas levam-nos a ser passivos, dependentes, introvertidos e reservados. As crianças do primeiro caso estarão em condições de influenciar os outros - terão liderança - e de ser criativas; as crianças do segundo serão, provavelmente, mais influenciáveis e conformistas.



De que depende que as experiências sociais vividas no lar fomentem ou não a atitude dos filhos para a convivência?



Um dos fatores é o caráter global do lar. Quando o ambiente da casa se caracteriza pela tensão e pelo atrito habituais, é muito provável que isso gere atitudes sociais negativas nos filhos. Pelo contrário, quando se respira um clima de compreensão entre os membros da família, os filhos desenvolverão atitudes positivas.



Outro fator é o das condutas que os filhos observam em casa. Os pais e os irmãos mais velhos são modelos de conduta que os filhos pequenos observam e imitam continuamente. É bom, por exemplo, que possam observar comportamentos que denotam preocupação pelos outros, compreensão, ajuda, flexibilidade... Os filhos percebem igualmente se o pai e a mãe se relacionam entre si com a benevolência e o altruísmo próprios do amor e da amizade, se têm ou não amigos, se sabem encontrar tempo para a amizade, se são generosos, sinceros, respeitosos e leais com seus amigos.



Um terceiro fator é o valor que os pais dão ao fato de os filhos serem sociáveis e terem amigos. Muitos pais encaram o tema da amizade como algo secundário. Ignoram assim que, como disse Aristóteles, os amigos são o que há de mais importante na vida. Ignoram que as relações de amizade ajudam as pessoas a conhecer-se, corrigir-se e superar-se em todos os aspectos.



Se os pais, por exemplo, não permitem que os seus filhos tragam para casa companheiros de diversão e amigos, estarão aplicando uma nota negativa à conduta social dos filhos. Para que as crianças pequenas se desenvolvam como pessoas sociáveis, é preciso animá-las a sê-lo e premiar os esforços que façam. Mas isso apenas não basta, apesar de já ser algo bom: é preciso ensiná-las também a comportar-se de um modo socialmente aceitável. Uma forma de estimular os filhos à abertura para os outros é convencê-los com fatos de que vale a pena. É bom que vejam, por exemplo, que os seus irmãos e companheiros de estudo se comportam melhor com eles quando são tratados com generosidade e pior quando são tratados de maneira agressiva.



Um quarto fator para ajudar os filhos a desenvolver atitudes de convivência e amizade é a participação na vida da família. Existem lares participativos e lares não-participativos. Nos primeiros, há muita comunicação pessoal entre pais e filhos e entre irmãos. Os pais explicam o motivo por que existem certas regras na família, os filhos são consultados antes que se adotem algumas decisões que os afetam diretamente, pais e filhos colaboram nas tarefas domésticas... Nesses lares, existe um clima de confiança e diálogo espontâneo e sincero, como é próprio da vida de família. As decisões dos pais não são caprichosas ou arbitrárias.



No lar participativo, os filhos são premiados pelo espírito de iniciativa, expressão espontânea, participação nas conversas e na tomada de decisões familiares. Como conseqüência, são criativos, originais, desenvoltos e abertos. No lar não-participativo ou excessivamente controlado, os métodos de educação são autoritários. Existem restrições taxativas da conduta sem nenhuma explicação e sem referência a critérios objetivos e estáveis. Os filhos não têm oportunidade de exprimir a sua opinião ou o seu ponto de vista. É próprio do lar não-participativo castigar os filhos que manifestam curiosidade e espontaneidade ou que tentam fazer valer as suas opiniões. E, por outro lado, premia-se a conduta submissa, dependente e impessoal.



Os pais que estão seriamente preocupados em desenvolver nos filhos hábitos de convivência e atitudes de amizade devem perguntar-se até que ponto o ambiente familiar caminha nessa direção. Proponho seis pontos para este auto-exame:



1. Há distância ou há relações amistosas entre os membros da família?

2. Controle autoritário ou clima de participação?

3. Individualismo ou cooperação no trabalho e no lazer ?

4. Somente punição ou também gratificação das condutas sociais dos filhos?

5. Casa fechada ou casa aberta aos amigos dos filhos?

6. Pais sem amigos ou pais com amigos?